01/01/2005 Aqui se encontrarão uma série de textos, nos quais se mostram alguns traços
significativos de como entendiam e viviam a Páscoa as primeiras gerações
cristãs. São textos muito importantes para nós hoje, e uma ajuda esplêndida para
respirar mais plenamente, já no terceiro milênio cristão, o ar fresco da fé na
Resurreição de Cristo, primícia de nossa fé , fonte de esperança certeira e
princípio inesgotável deste Amor que o mundo inteiro necessita mais que nada.
Com uma Pedra no Sepulcro
No dia 14 [do mês de Nisan] é a verdadeira Páscoa do Senhor, a grande imolação:
no lugar do cordeiro, o Filho de Deus; Aquele que foi atado e, sem embargo, atou
ao forte; que foi julgado, e é Juiz dos vivos e dos mortos; que foi entregue nas
mãos dos pecadores para ser crucificado; que foi atravessado em seu santo lado,
e fez brotar do mesmo o duplo banho da purificação: a água e o sangue, a Palavra
e o Espírito; que foi sepultado no dia da Páscoa, com uma pedra fechando o
sepulcro.
Apolinário de Hierápolis
(século II)
O Mistério do Batismo
Nos anos anteriores, o Senhor, celebrando a Páscoa, comeu o cordeiro pascal
imolado pelos judeus. Mas uma vez que foi predicado o Evangelho, sendo Ele mesmo
a Páscoa, o cordeiro de Deus, que era levado como ovelha ao matadouro, em
seguida explicou aos discípulos o mistério destas imagens, e isso no dia 13 [de
Nisan], quando lhe perguntam: Onde queres que façamos os preparativos para comer
a Páscoa? Era o mesmo dia em que se celebrava a santificação dos ázimos e a
preparação da festa. Por isto são João descreve neste dia o lavatório dos pés
dos discípulos, que o Senhor realiza justamente como preparação. Foi pois, no
dia seguinte que nosso Senhor morreu, sendo Ele mesmo a Páscoa imolada pelos
judeus.
Por isso no dia 14 [de Nisan], no dia da sua morte, a primeira hora da manhã,
tendo sido conduzido a Pilatos, os sumos sacerdotes e os escribas não entraram
no pretório para não contaminar-se e poder assim comer a Páscoa, pela tarde, sem
impedimentos. Com este preciso cálculo de dias que concordam todas as Escrituras
e os evangelhos em plena harmonia. Também o confirma a ressurreição; ressuscita
no terceiro dia, que corresponde ao primeiro dia [da festa judaica] das Semanas
da colheita, quando estava prescrito que o sacerdote oferecesse uma face.
Escuta o que diz o profeta; O Senhor nos ressuscitará depois de dois dias e ao
terceiro dia, ressuscitados, viveremos em sua presença. O primeiro dia é para
nós a Paixão do Salvador; o segundo, o do seu descenso ao lugar dos mortos; o
terceiro é o dia da ressurreição. Se o apóstolo são Paulo nos ensina que nestas
palavras se esconde o mistério do batismo, é necessário que aqueles que são
batizados em Cristo sejam batizados em sua morte e sejam também sepultados com
Ele, e com Ele ressuscitem da morte ao terceiro dia. Quando, portanto, tu tenhas
recebido o mistério do terceiro dia, então Deus começará a guiar-te e a
mostrar-te o caminho da salvação.
Orígenes
(Século III)
Vitória sobre a Morte
A Páscoa verdaeira é a abstinência do mal, o exercício da virtude, e o passo da
morte à vida. Isto é o que se aprende da imagem antiga. Então se esforçavam por
passar desde Egito a Jerusalém; agora nós nos esforçamos por passar da morte à
vida. Então, do Faraó a Moisés; agora, do diabo ao Salvador.
Jejuamos pensando na morte, para poder depois viver. Vigiamos sem tristeza,
porém como gente que espera o Senhor que volta ao banquete, para encontrar-se
novamente entre nós e anunciar quanto antes o sinal da vitória sobre a morte.
Santo Atanásio
(Século IV)
A Pão e Água
Os seis dias da Páscoa transcorrem para todos a base de comer apenas pão, sal e
água, ao entardecer. Os mais piedosos prolongam o jejum até dois, três e quatro
dias, e alguns toda a semana até o cantar do galo, ao depontar o domingo,
vigiando todos os seus dias e celebrando as assembléias nos seis dias e toda a
Quaresma, da hora nona a das vésperas. Em alguns lugares se realiza vigília na
noite que segue a feira quinta, até o despontar da Páscoa, e na noite do
domingo.
São Epifânio
(século IV)
"Como entre nós"
No sábado se prepara a vigília pascal na igreja maior, isto é, no Martyrium. A
vigília pascal se desenvolve como entre nós; ademais, aqui só se dá o fato que
os neófitos, uma vez batizados e posta a vestidura branca, são conduzidos em
seguida, apenas saídos da fonte, à Anástase (lugar da celebração eucarística),
junto com o bispo. O bispo ultrapassa as portas da Anástase; recita um hino e o
bispo pronuncia uma oração para eles; logo retorna com eles à igreja maior, onde
o povo está em vigília. Aqui se faz o mesmo que entre nós e, depois da oblação,
tem lugar na despedida. Depois da despedida, que segue à vigília na igreja
maior, imediatamente, ao canto de hinos, somos conduzidos a Anástase. Aqui se lê
novamente a passagem evangélica da ressurreição, faz-se uma oração e o bispo
repete a oblação. A vigília conclui naquele dia na mesma hora que entre nós.
Do Itinerário a Egeria
(século IV)
"Meus irmãos e senhores"
Estes dias, como todos sabem, nós celebramos a Páscoa, e neles se canta o
Aleluia. Devemos, no entanto, irmãos, prestar muita atenção para compreender com
a alma aquilo que celebramos visivelmente. Páscoa é uma palavra hebraica que
significa passagem; em grego [soa] pásjein, padecer, e em latim pascere, no
sentido com o qual se diz: Apascentarei aos amigos. Quem é o que celebra a
Páscoa senão aquele que passa da morte para a vida porque amamamos os irmãos?
Quem é o que celebra a Páscoa senão quem crê n 'Aquele que padeceu na terra,
para reinar com Ele no céu? Quem é o que celebra a Páscoa senão quem apascenta
nos irmãos a Cristo? Ele, com efeito, disse sobre os pobres: Quem tenha feito
algo a um dos meus menores, a mim me fez. Cristo está ascendido no céu e é
indigente na terra; interpela ao Pai por nós e aqui embaixo pede o pão desde
nós. Por isto, meus irmãos e senhores, se queremos celebrar uma Páscoa saudável,
passemos dos pecados à justiça, padeçamos por Cristo, apascentemos nos pobres a
Cristo.
"Nos anos anteriores, o Senhor, celebrando
a Páscoa, comeu o cordeiro pascal imolado pelos judeus. Mas uma vez que pregou
o Evangelho, Ele mesmo se converteu
no Cordeiro de Deus"
"Quem é o que celebra a Páscoa
senão quem crê n'Aquele que padeceu na terra, para reinar com ele no céu?"
Santo Agostinho
(século IV)
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