02/01/2005 O prestigioso teólogo jesuíta Cândido Poço reflete sobre a Virgem, neste mês de
maio do Ano Santo Aposentar 2000
Mãe de Deus Filho
A relação fundamental da Maria com respeito a seu Filho Jesus é a de sua
Maternidade. Encontramos a fórmula venerada do Concílio de Éfeso, definida no
ano 431: Maria é Mãe de Deus (Theotokos), como não duvidaram os Santos Padres em
chamá-la. Assim a invocavam os fiéis já antes desse Concílio, no sigo IV e
possivelmente no III. Em um papiro chegaram até nós as palavras da mais antiga
oração Mariana que se rezou na Igreja, e que contém o título de Mãe de Deus
aplicado a Maria: Sob sua misericórdia nos refugiamos, Oh Mãe de Deus! Não
despreze nossas súplicas na necessidade, mas sim livra-nos do perigo, apenas
pura, apenas bendita. A oração é muito significativa. Pela relação de Mãe que
Maria tem com Jesus, compreende-se a singular eficácia de sua intercessão. A
isto se deve que os fiéis, já nos primeiros séculos, fossem a Ela
confidencialmente em sua necessidade e indigência.
Mas, inclusive antes de fixar a atenção na importância intercessora que se
deriva de que Maria é Mãe de Deus, conviria sublinhar o relevo teológico de
primeiro plano que o título encerra. Frente a Nestorio, são Cirilo de Alexandria
e o Concílio de Éfeso compreenderam que o que estava em jogo era o dogma
fundamental do cristianismo: que Jesus é Pessoa divina; que não há nele a não
ser um único sujeito último de responsabilidade, que é a Pessoa do Logos. Isso
permite dizer com verdade que Deus (e não só um homem) por nós padeceu, foi
crucificado e inclusive sofreu a morte. É impressionante que para garantir esta
verdade se recorresse a um título Mariano: a Santíssima Virgem é a Mãe de Deus.
Finalmente convém não esquecer que a Maternidade da Maria com respeito ao Filho
de Deus associa sua existência a de seu Filho. Ela é a Mãe santíssima de Deus,
que tomou parte nos mistérios de Cristo. Ela é a Nova Eva associada a Cristo, o
Novo Adão, segundo uma temática que começou a desenvolver-se na Igreja a partir
do século II. Se a primeira Eva dialogou com o demônio, desobedeceu a Deus e
trouxe sobre o mundo morte e ruína, Maria, a Nova Eva, dialoga com o Anjo,
obedece a Deus e traz para o mundo ao Salvador e, com Ele, a salvação.
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